Se você sobreviveu à pandemia, crise econômica e as mais variadas tormentas mundiais que assolaram o último ano, parabéns! Bem-vindo à 2022.
Agora está na hora de olhar para o que passou e tirar lições que serão importantes para este ano. Em 2019, antes da pandemia, o Fórum Econômico Mundial publicou um relatório que destacava algumas competências que seriam valiosas para 2022.
Visto todos os problemas que as empresas vêm passando no âmbito da saúde mental e emocional com seus colaboradores, acredito que já esteja mais do que na hora de olhar para a inteligência emocional e a felicidade como um assunto de saúde corporativa o que, de fato, não tem mais volta.
Trago aqui, as principais competências destacadas pelo Fórum com algumas reflexões minhas, sempre embasadas em pesquisas e dados.
PENSAMENTO ANALÍTICO E INOVAÇÃO
Nessa competência, a inovação é apresentada como resultado da capacidade de análise, ou seja, investigar um problema, identificar todas as suas nuances e conseguir propor uma solução que gere inovação.
Sabe aquela premissa: Foque na solução e não no problema? É por aí. Claro que você precisa identificar o que há de errado, porém, ao invés de ficar dando volta atrás do próprio rabo em busca de um culpado, olhe para qual a melhor forma de resolver a questão de forma criativa e eficiente.
Como? Olhando primeiro pra você. Quais suas atitudes diante de uma adversidade? Senta e chora? Grita com quem estiver na frente? Procura um culpado e tira o “seu” da reta?
Quando você entende como se comporta e tem a curiosidade para saber o “porquê” desse comportamento, você começa a entender como as emoções se manifestam no seu corpo, pensamento e atitudes.
Quando entender que o comportamento e desempenho da sua equipe são medidos pelo exemplo que dá, você já começa a ir para camadas mais profundas.
Não pense que é só focar na solução e ela aparece num passe de mágica ou pressionar a equipe por soluções e resultados.
A inovação e a criatividade são habilidades que podem ser desenvolvidas, mas para isso é preciso olhar pra dentro primeiro. De você e depois dos seus colaboradores. A capacidade de análise vem de uma mente leve, inspirada e positiva.
APRENDIZAGEM ATIVA E ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
Com uma imensa quantidade de dados disponíveis, o chamado lifelong learning, ou aprendizado contínuo, nunca foi tão importante. Encontre a forma de adquirir conhecimento que mais combine com você: leitura, audiobooks, podcasts, blogs, cursos, congressos, grupos de estudo e trabalhos voluntários, entre outros.
A necessidade de ser um sabe-tudo ou estar sempre certo é uma atitude defensiva e é muito comum entre nós, em diferentes graus. Esse comportamento gera falta de confiança, decisões ruins, confrontos desnecessários e conflitos improdutivos.
Estar numa posição de sempre aprendiz é um fator primordial para uma liderança ousada. E você pode usar algumas estratégias para transformar o “sempre saber” em “sempre aprender”.
Uma delas é estimular o aprendizado de habilidades relacionadas à curiosidade como prioridade. Recompensar ótimas perguntas e exemplos de “não sei, mas gostaria de descobrir” também podem inspirar a equipe. Isso faz com que as pessoas saiam da vontade de “estar certo” para a vontade de “fazer bem-feito”.
CRIATIVIDADE, ORIGINALIDADE E INICIATIVA
Para sermos capazes de inovar, precisamos da curiosidade e de espaços criativos que estimulem o processo criativo. Aqui é importante estar em um ambiente que ofereça segurança psicológica, além de abraçar a vulnerabilidade, para que você possa ousar.
Criar um ambiente livre da vergonha e de julgamentos é o primeiro passo para criar conexão e confiança entre o time. Entenda, nunca haverá um ambiente ou momento perfeito.
O julgamento é algo que habita em nós desde sempre, ele revela algo mal resolvido em nós mesmos. Por isso, é quase impossível eliminá-lo, mas com autoconhecimento, podemos reconhecer a presença dele e neutralizá-lo o máximo possível.
A mesma coisa com a vergonha. É preciso saber de fato o que é, reconhecer como ela se manifesta, seus gatilhos, para aprender a não deixá-la dominar e, principalmente, não usar a vergonha nos outros.
É preciso tirar o foco no “o que os outros vão pensar”, principal armadilha do perfeccionismo. O mais importante é focar na solução e no aprendizado. Construir um ambiente seguro leva tempo, requer esforço e atenção plena. Você acerta, erra e faz tudo de novo, mas não desiste.
Dar a oportunidade para o pensamento crítico, as ideias inovadoras, questionamentos produtivos e positivos é algo que pode ser feito em reuniões de equipe e feedbacks aos poucos. As pessoas podem estranhar a mudança num primeiro momento, mas logo elas começam a se inspirar.
Uma pesquisa realizada em Harvard, chamada “Bola de Neve”, mostrou que a bola começa a rolar quando um líder se dispõe a ficar vulnerável diante de seus subordinados. O estudo revela que essa atitude é considerada corajosa pelos membros da equipe e estimula os outros a seguirem o mesmo caminho. O resultado mostrou que a empresa em questão aumentou a eficiência, a equipe prosperou, houve mais iniciativa e inovação, além de a empresa ter superado a concorrência.
Quando você trabalha em equipe é curioso e se abre para ouvir opiniões e visões diferentes. Você consegue avançar na resolução de problemas complexos de forma criativa.
LIDERANÇA E INFLUÊNCIA SOCIAL
Aqui o foco está mais nas soft skills do que em hard skills. E mais, está mais nas pessoas do que nos resultados. Esse último vem de forma natural quando a liderança trabalha em prol de um bem maior, fazendo com que todos se sintam pertencentes, parte de algo maior. Assim, a empresa constrói um legado e não apenas resultados.
Esse tipo de liderança não olha para autoridade ou poder, mas para relações sustentáveis e benéficas tanto para organização quanto para a sociedade em geral.
Essa é a base do conceito do jogo infinito da liderança, quando somos movidos a fazer avançar uma causa maior que nós mesmos. Consideramos aqueles que compartilham essa visão conosco parceiros na causa e trabalhamos para construir relacionamentos de confiança com eles de modo que possamos avançar juntos para o bem comum. O jogo nunca termina, só mudam os jogadores.
Nas empresas, o que mais se vê é líderes com mentalidade finita, ou seja, o objetivo é ficar mais ricos ou sermos promovidos mais rapidamente do que os outros. Até pouco tempo atrás isso era super normal, era ensinado de geração em geração. Só que o mundo está mudando.
O jogo infinito pede que a gente acabe com aquela mentalidade-padrão mais imediatista e exige a presença de líderes inspiradores, que compreendem não se tratar do próximo trimestre ou da próxima eleição, mas da próxima geração.
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Saber lidar com nossas próprias emoções, não sendo levados por impulsos, e também com as emoções dos outros sempre foi fundamental tanto na vida pessoal quanto profissional. No entanto, somente agora é que o holofote está voltado para essa questão de forma intensa. Desenvolver habilidades emocionais como autoconfiança, coragem, paciência, persistência, autoconhecimento, resiliência e empatia são os fatores-chave para estabelecer uma liderança saudável, pois, antes de gerenciar pessoas, é necessário gerenciar a si mesmo e as suas emoções.
É desconfortável e dói olhar pra dentro, não é? Mas o caminho do sucesso nunca foi fácil. Você pode dizer: “não tenho tempo pra isso, se eu parar o mercado me engole”, mas não é bem assim.
Como diz a autora e pesquisadora Brené Brown: “Em vez de dedicar um tempo razoável a ser proativo e a reconhecer e lidar com os medos e sentimentos, gastamos um tempo excessivo gerenciando comportamentos problemáticos”.
Não tem jeito, se você quer resultados, uma equipe unida e eficiente, repleta de confiança e conexão, você precisa olhar para a vulnerabilidade e a inteligência emocional. Se você não fizer, aí sim, vai ser engolido.
E aí, topa o desafio de construir essas habilidades em você e no seu time?