Não importa se você é líder ou liderado, rico ou pobre, esposa, marido, filho, presidente ou líder religioso. Se você é humano, aprenda: a comunicação é o centro de tudo. Ela define o começo de uma guerra ou um tratado de paz.
Tenha em mente que comunicação não é o que você fala, mas o que o outro compreende daquilo que foi dito.
Parece óbvio, mas não é. Muitos problemas, desde que o mundo é mundo, são causados pelo simples fato de um ser humano não ouvir o outro.
Ouvir mesmo, na essência, sem julgamento. Tenho certeza que, nesse momento, você deve estar pensando: “Ah Samantha, mas eu escuto as pessoas!” Ah é? Então, vamos lá. Em primeiro lugar, você sabe a diferença entre ouvir e escutar?
Ouvir é um processo mecânico referente ao sentido da audição, é além de sua vontade, a não ser que tape os ouvidos.
Já escutar é uma ação que depende da sua vontade em prestar atenção, tentar entender o que está sendo dito, refletir, e, depois de assimilado o conteúdo, concordar ou não.
Faça o seguinte exercício: quando for entrar em uma conversa, qualquer que seja, pare e fique escutando a pessoa sem interromper, sem pensar na próxima frase, sem julgar.
Só escute cada palavra e, quando a pessoa terminar, repita exatamente tudo o que ela lhe falou. Parece fácil né? Pode até ser, mas perceba como a sua mente vai viajar, julgar e fazer de tudo para que você fale algo que faz sentido pra você, um insight, um conselho ou até mesmo uma discordância. É natural, todos temos esse impulso.
Porém, a partir do momento que você exercita o seu cérebro a prestar atenção no outro e, principalmente, a não julgar, você vai perceber uma mudança drástica não só no seu corpo, mas na forma de pensar e sentir. O relacionamento muda.
Aquela pessoa que era reativa ou que você tinha algum problema, passa a te olhar de uma outra forma, porque você se dispôs a escutá-la, fez algo diferente daquilo que você fazia antes, se colocou disponível.
Nesse momento, de ambos os lados, surgem sentimentos de empatia, compaixão e gratidão. Tem gente que estranha, mas com o tempo, se isso se tornar um hábito, ela se acostuma e vai te retribuir.
Só o fato de escutar contribui com a construção da confiança e segurança. Senti isso na pele. Sempre fui muito passional, defendia a família, amigos, funcionários como se fosse uma leoa.
Quando alguém me confidenciava uma injustiça eu virava bicho e já queria ir resolver ou tirar satisfação com o “algoz”.
Dava um sermão em quem se abriu comigo, tentando “ensinar” como se posicionar e não deixar que ninguém se aproveitasse dela. Pode parecer que não, mas isso é uma tremenda falha empática.
A pessoa que se abriu comigo se sentia defendida? Sim! Mas também se sentia envergonhada por ter deixado tal fato acontecer, por não ser forte, não falar ou fazer a coisa “certa”. Eu não sabia, mas tirava a força da pessoa.
Por vezes, a pessoa vinha me acalmar e dizia: está tudo bem, vai dar tudo certo. Caramba! Quem tinha que acolher quem?
Tudo o que essa pessoa precisava era ser acolhida, escutada, com um olhar generoso, um sorriso amoroso e um abraço carinhoso.
Se ela pedisse a minha opinião, eu poderia dar, mas não com aquilo que eu faria ou que era o certo, mas com palavras que levasse ela a refletir e achar o seu caminho.
Cada ser humano é único, tem histórias e crenças únicas, um modo de sentir e lidar com as coisas muito particular. O meu certo, não é o seu. E tudo bem.
Entretanto, a escuta é somente parte do processo. A fala e a linguagem corporal são as outras peças desse quebra-cabeça da comunicação.
Lembra da história acima? A minha explosão “defensora” em nenhum momento levou em consideração a necessidade da outra pessoa.
Eu estava incomodada em ver alguém sofrendo, fato que por si só já me causa um desconforto tremendo. A minha explosão e atitude foram autodefesas para que eu me livrasse do meu desconforto.
E com isso, usei uma linguagem extremamente violenta, que não levou em consideração o que a pessoa sentia ou precisava.
Eu não ensino comunicação não violenta, acho que com todo o meu aprendizado dos últimos anos ainda estou engatinhando no processo.
No entanto, algumas coisas já absorvi e exercito diariamente – provavelmente até o fim da vida. O primeiro passo é a observação.
Quando você está lá escutando, dependendo do teor da conversa, uma série de coisas podem acontecer dentro de você. Você pode não concordar, se achar injustiçado, querer se defender, brigar.
Após escutar com plena atenção, observe o seu corpo. Como ele reage? Quais foram os gatilhos que despertaram as suas emoções? Que emoções são essas.
Mas Samantha como eu vou prestar atenção no que a pessoa fala, no que eu sinto e ainda me segurar pra não explodir??? Treino.
Um dia você vai apenas escutar a pessoa, provavelmente você vai interrompê-la, mas assim que perceber, volte sua atenção para ela novamente.
Quando você dominar essa parte, pare e reflita sobre a conversa. Como você se sentiu, quais as reações que surgiram. Investigue.
Com o tempo você começa a fazer tudo isso naturalmente.
Existem alguns passos para treinar a comunicação não violenta, mas não vai caber aqui. No momento se atenha a esse exercício de escuta e observação.
Busque também entender a necessidade da outra pessoa. Toda briga vem de uma necessidade não atendida, da reação à forma como você se comunica.
Então preste atenção em você e na outra pessoa. Mude os padrões da conversa e veja se funciona.